A LUDICIDADE NO ATENDIMENTO DE ALUNO COM ATRASO NEUROPSICOMOTOR
Luciana Angélica Silva e Silva [1]
RESUMO
O
presente trabalho apresenta um relato de caso do aluno R.B.O, 10 anos, com
paralisia cerebral hemiparética à esquerda, epilepsia e atraso global do
desenvolvimento neuropsicomotor. O aluno iniciou nos atendimentos aos 4 anos e
meio de idade, apresentando atraso psicomotor. Para sua locomoção era usado um
carrinho de bebê. Sua alimentação era líquida oferecida na mamadeira, usava
fralda descartável. Ele não interagia com as pessoas. No início, não articulava
diálogo, mal se comunicava. Foi realizada uma avaliação psicopedagógica, para
que fosse traçado um perfil de entrada, sendo a mesma realizada de forma
concreta e qualitativa, pois o mesmo não fazia nenhum tipo de registro. Essa avaliação teve como objetivo
colaborar com a inclusão do aluno no CEMEI e prepará-lo para o ingresso na
escola regular, com base na fundamentação teórica que norteou o trabalho,
sustenta‐se também que a parceria escola, família é de grande valia
para a inclusão e permanência do mesmo na escola. Após essa etapa, foi
traçado um plano de ação para ser desenvolvido durante os seus atendimentos. No
início, o aluno foi atendido individualmente e à medida que foi progredindo o
mesmo foi inserido em um grupo de AEE em sala multifuncional. O seu
atendimento foi pautado em atividades
com enfoque na estimulação das áreas motora, cognitiva, perceptiva e oral,
utilizando jogos e atividades, com vistas ao desenvolvimento das habilidades
escolares, na estruturação espaço/temporal e psicomotora. No
decorrer dos atendimentos, percebeu-se que o mesmo obteve consideráveis avanços
nas áreas trabalhadas.
Palavras-chave: Hemiparesia. Neuropsicomotor.
Desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
A declaração de Salamanca (Espanha,
1994), afirma que “toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser
dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem”. Para tanto, a escola como espaço universal de ensino,
deve promover o acesso a todos os alunos para que desenvolvam plenamente suas
habilidades cognitivas, físicas, morais, emocionais e culturais.
A política de inclusão dos alunos com
necessidades educativas especiais, segundo a LDBN 9394/96, consolida e apontam
diretrizes que assegurarão aos mesmos, currículos, técnicas, recursos
educativos e organização especifica para atendê-los em suas necessidades
educacionais.
Buscando
assegurar esse direito, buscou-se nos atendimentos com o aluno R.B.O, desenvolver
um trabalho pedagógico voltado para a efetivação da garantia do direito à
educação. Sendo que professores, mediadores pedagógicos e responsáveis pelas
atividades que desencadeiam o processo ensino/aprendizagem devem desenvolvê-las
de forma significativa e prazerosa, para que os alunos sintam se participantes
desse processo e não menos receptores de conhecimentos.
METODOLOGIA
O aluno frequentava Centro Municipal EducacionaI
de Educação Infantil quando foi encaminhado para sala de recurso. O referido
CEMEI ainda não tinha uma sala de AEE para atender à sua demanda de inclusão. Após
uma análise detalhada dos documentos encaminhados, foi iniciada a avaliação
psicopedagógica, para traçar o perfil de entrada do aluno e para nortear o seu
atendimento. Tendo em vista que o aluno no início do atendimento não estabelecia
diálogo, apresentava dificuldade na comunicação devido ao comprometimento
solicitou-se uma nova entrevista com a responsável pela criança, para conhecer
um pouco mais sobre ele, o que mais gostava. Notou-se que gostava de música,
então foi solicitado à mãe as músicas que ele gostava. A partir desse momento iniciou-se
o atendimento com estratégia, música. Partindo do ponto positivo dos alunos, eles
se sentem motivados e capazes. Com isso foi possível melhorar a comunicação. As
atividades de música foram aliadas às lúdicas. Isso foi fundamental para que
ele progredisse nos atendimentos e respondesse positivamente aos objetivos
propostos para ele no plano de ação.
A utilização da ludicidade no processo
de ensino/aprendizagem é muito importante e o uso dos jogos nos atendimentos do
AEE contribui para que os conteúdos trabalhados ganhem mais significados. O cuidado na escolha dos jogos faz com que os alunos realmente alcancem aos objetivos e
não se restrinjam somente ao jogo pelo jogo. Eles devem ser atraentes,
coloridos, desafiadores e adequados ao nível do aluno, pois assim levarão os mesmos
a adquirirem conceitos e a conduzirem o pensamento para ações mentais mais
complexos.
Sabemos que
quanto mais estímulos as crianças com necessidades educacionais especiais
receberem mais elas terão condições de se desenvolver e superarem suas
limitações intelectuais e biológicas. Toda criança tem capacidade de aprender,
mas todas têm seu tempo, possibilidades e ritmos próprios. Com o aluno R.B.O,
não foi diferente, ele demonstrou muito interesse nos materiais lúdicos como
dedoches, fantoches e palitoches, principalmente porque envolvia música e
histórias variadas. Era contagiante ver a alegria em seu rosto. Com isso foi
desenvolvendo a sua oralidade, começou cantarolando, aos poucos já começava a
cantar uma frase inteira da música, mas ainda existia a barreira do diálogo. Começou-se a trabalhar com fichas de figuras
variadas e com nomes de objetos da sala do atendimento. Aos poucos ele foi
adquirindo compreensão. Dizia “computado, jacaré” queria dizer que queria jogar
o jogo do jacaré no computador, “ventilador”, queria ligar o computador. Aos
poucos foi quebrado o a inibição inicial, carregado de agressividade, e
substituído por muita interação e atividades produtivas. R.B.O. apresentava alterações
em seu comportamento devido à troca de rotina. Com o
objetivo de proporcionar sempre um avanço em todas as suas dificuldades foi
trabalhado atividades que envolviam a retirada do carrinho de bebê, como
a prática de caminhar nas dependências da escola, subir e descer rampas,
escalar as grades da sala. Ele estava muito acostumado a ser tratado pela mãe
como um bebê. A interação escola/mãe muito contribuiu para essa mudança de
rotina. Geralmente as mães superprotegem seus filhos, principalmente com algum
tipo de deficiência. A interação com a mãe e a professora regular a cerca de
várias possibilidades de estímulos e intervenções lúdicas ajudaram muito no
progresso do aluno.
Os jogos pedagógicos são muito
importantes nesse processo de aquisição da aprendizagem dos alunos com
deficiência intelectual, são atividades prazerosas, mais fáceis de assimilação.
Ao se fazer a escolha dos jogos a serem trabalhados, é importante levar em
conta, o nível cognitivo dos alunos que serão atendidos e responder a três
questões importantes: “para quem”, “por que” e “para quê”, está sendo planejado
com intuito de atingir os objetivos propostos para que haja aprendizagem. Os
jogos possibilitam a compreensão prática que por conseqüência permitem que as
crianças obtenham êxito nas atividades habituais. Devemos aproveitar esse
momento para transformar essa compreensão prática, ou seja, substituí-la por
uma compreensão ao nível de pensamento.
RESULTADOS
E DISCUSSÕES
Atualmente o aluno,
já escreve os dois primeiros nomes sem auxílio de ficha, mas com traçados muito
grandes, desproporcionais. Conhece o alfabeto inteiro, identifica a letra
inicial das palavras, faz leitura de sílabas e pequenas palavras. Melhorou a
oralidade articula frase inteira, conta histórias e adora cantar. Está
ampliando o seu vocabulário. Continua no nível pré-silábico. Faz leitura de imagem
e descreve de forma simples. Quanto às habilidades matemáticas, estabelece
relação número/numeral, identifica os números até 20, representa até 10 com
ajuda. Mas ainda não consegue realizar atividades que demandam raciocínio como
problemas matemáticos e cálculos mentais. Ainda não domina a técnica
operatória.
Sua coordenação motora não está
consolidada devido ao comprometimento do membro superior e inferior esquerdo, mas
consegue recortar sozinho e colorir, consegue se locomover sem necessitar de
ajuda anda em plano reto e inclinado (rampa), sobe e desce escada.
CONCLUSÃO
Conclui-se então que a ludicidade, a
música, os jogos foram muito importante nos atendimentos e escolarização do
aluno R.B.O. Eles contribuíram para o processo, tendo em vista o atraso
cognitivo apresentado pelo aluno. O lúdico em situações educacionais
proporciona um meio real de aprendizagem. Mantoan nos apresenta a aprendizagem
como centro das atividades escolares e o sucesso de seus alunos como a meta
independentemente do nível de desempenho a que cada um seja capaz de chegar,
são condições de base para que se caminhe na direção de escolas acolhedoras. O
sentido desse acolhimento não é o da aceitação passiva das possibilidades de
cada um, mas o de ser receptivos a todas as crianças, pois as escolas existem,
para formar novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros membros, os
mais privilegiados.
REFERÊNCIAS
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/direitoaeducacao.pdf
Acesso em: 19 de setembro de 2018.
BRASÍLIA, Mec/Seesp -2010.A educação
especial perspectiva da inclusão escolar.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf
Acesso em: 19 de setembro de 2018.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por que?
Como fazer?. São Paulo. Moderna,
2003
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